Yoga pelo mundo
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Yoga pelo mundo



Por Tarik Van Prehn


Nasci no Brasil em 1975 e vivi no estado de São Paulo, envolvido pela Mata Atlântica, até 1988. Nesse mesmo ano meus pais foram convidados para trabalhar em Portugal, eu tinha 13 anos quando nos mudamos para Lisboa, da selva para um 9º andar foi um grande contraste, mas a minha paixão pelo surf me manteve "conectado" pelos anos seguintes. Comecei a praticar Yoga diariamente em 1994/95, com 19 anos. Minha avó materna e minha mãe foram sempre vegetarianas e minha avó viveu na Índia por dois anos antes de imigrar da Indonésia para o Brasil no final dos anos 40, foi através dela que conheci o Yoga. O Ashtanga Vinyasa eu só conheci em 1998, viajei para Mysore pela primeira vez em 2001 e voltei anualmente até 2008.


Ashtanga Yoga pelo mundo

Tem sido um grande privilégio poder compartilhar essa prática com tantas pessoas pelo mundo, às vezes me sinto como um "missionário" do Ashtanga Yoga, os convites vão surgindo e vou sendo "enviado" sem ter muito controle sobre os acontecimentos.

Mudam as culturas, mudam as pessoas, mudam os países, mas a prática é sempre a mesma, isso é muito bonito, há milhares de pessoas pelo mundo que diariamente, ao nascer do sol, praticam as mesmas sequências de movimentos, e a prática é transmitida através do toque e do silêncio. Em uma sala de aula há diferença na intensidade e no propósito, mesmo que o motivo não seja consciente, acho que posso afirmar com certa segurança e "experiência direta" que a maioria dos praticantes de Ashtanga quer simplesmente atingir um estado de paz e amor em suas vidas. Pode parecer um clichê, mas é verdade. É claro que se você perguntar para um praticante de Nova York ou de Oslo quais são os motivos, o de Nova York quer diminuir o estresse e o de Oslo quer ser mais flexível e resistente para praticar ski de fundo.


Os motivos conscientes que atraem as pessoas à prática do Yoga são principalmente (nem sempre) externos, as pessoas querem, antes de mais nada, colher os benefícios físicos e estéticos ou diminuir o estresse e o Ashtanga Yoga é sem dúvida um estilo que em pouco tempo vai te proporcionar um corpo forte, flexível e ligeiro e uma mente mais ou menos tranquila. O estado mental e de espírito vai depender principalmente da qualidade da respiração e em grande parte da qualidade e experiência e atitude do professor.


A influência que o meio ambiente tem sobre as pessoas é enorme e vivemos em tempo de grande confusão. Por centenas de anos os verdadeiros iogues se retiraram para as montanhas e grutas do Himalaia ou mantiveram um estilo de vida muito pacato e reservado. Diz-se que Krishnamacharia (mestre de Pattabhi Jois) viveu durante sete anos nas montanhas aprendendo Yoga com seu guru. Compilou, desenvolveu e influenciou mais de um sistema e os compartilhou com o mundo com a esperança de diminuir o sofrimento humano.


Hoje em dia, nós hatha iogues medimos desenvolvimento pessoal e espiritual com a proficiência física, quanto mais posturas, mais "avançado" é o iogue. Buscamos a imagem externa de perfeição ou então acumulamos uma enorme quantidade de conhecimento teórico, decoramos os textos clássicos, estudamos e pronunciamos corretamente o sânscrito etc. Estamos vivendo a era da exteriorização do Yoga, já se fala até do Yoga como um "mercado" ou um "negócio".


No que diz respeito à preservação da tradição, são poucas as pessoas realmente empenhadas nesse trabalho, principalmente quando comparamos o crescente número de estilos e praticantes no mundo, com seus produtos e marcas associadas.

Eu comparo o desenvolvimento do Yoga ocidental com os alimentos geneticamente modificados: bonitos por fora, mas sem nada por dentro, tendo como principal objetivo gerar produtos e capital, e os efeitos a longo prazo ninguém sabe realmente. Já existem muitos Yogas geneticamente modificados ou Yoga transgênicos, é normal encontrar sistemas muito populares criados por uma pessoa que estudou vários sistemas e misturou um pouco de cada um.


Pode até ser que os praticantes desses sistemas colham alguns benefícios, mas o fato é que quem os criou, normalmente não os praticou por tempo suficiente. Basta estudar o percurso dos seus criadores para perceber que os anos de prática de todos eles foram ou com BKS Iyengar ou com Sri K Pattabhi Jois ou Swamy Sivananda, ou então com alunos avançados desses mesmos mestres.

Pessoalmente, acho positivo que as pessoas pratiquem Yoga independentemente do estilo, também acredito que a comercialização do Yoga possa até ter uma função positiva, pois eventualmente, e se a busca for sincera, mais cedo ou mais tarde, nessa vida ou na próxima, qualquer estudante dedicado irá certamente manifestar em vida a paz e o amor que refletem a verdadeira natureza interior de cada um.


Hoje em dia tento colocar a minha relação com o Yoga em profundidade e em perspectiva: como vou manter a disciplina e a dedicação nos próximos 25 ou mais anos? No que diz respeito à prática tradicional do Ashtanga Vinyasa Yoga de Sri K Pattabhi Jois e pelo que tenho observado, há uma barreira entre os cinco e sete anos de dedicação diária para que o praticante consiga aceitar as suas limitações físicas e transcender as dimensões mais externas do corpo e do ego, para poder experimentar as dimensões mais internas da prática.


Há de fato um grande trabalho de limpeza e purificação do corpo e da mente para poder manifestar a paz e o amor que buscamos, e esse trabalho nem sempre ou quase nunca é prazeroso, como dizia Guruji: “No pain, no Yoga”.

Infelizmente muita gente desiste antes mesmo de ter sentido os benefícios internos. A dor física e psicológica infelizmente faz com que projetemos as nossas frustrações no Yoga, simplesmente por não termos atingido os nossos objetivos de forma rápida ou imediata. É o reflexo da sociedade de consumo e da geração fast-food.


O Yoga é uma tradição de centenas ou milhares de anos. Segundo Sharath, o asana é apenas o alicerce e o Yoga é o caminho para a Verdade. Em uma conferência em Mysore um aluno perguntou a Sharath por que existem seis séries, Sharath respondeu que quando não se encontra a autorrealização na primeira série, você tenta a segunda, se ainda não atingiu, tenta a terceira e assim por diante.


A maioria dos praticantes não vai atingir a autorrealização nessa vida, mas se não tentarmos, seguramente que não iremos. Como Guruji costumava dizer: “Yoga takes many life times, in this one not coming, next life time you take, no problem, you take one by one” (O Yoga leva muitas vidas, se não vier nessa vem na próxima vez, sem problemas, você leva passo a passo).


Eu ainda não desisti de tentar fazer com que as pessoas não desistam. E é essa energia que me faz continuar a viajar e inspirar as pessoas, sabendo claramente que o verdadeiro professor é a prática. Eu como meus companheiros, somos somente veículos ou canais de transmissão de uma arte que é muito maior do que todos nós. O que estou seguro é que há práticas boas e práticas difíceis, e vai ser assim até a última prática da minha vida, mas me sinto melhor quando pratico, e isso é o suficiente para continuar.


O Yoga é experiência direta e não passa por palavras bonitas nem por corpos perfeitos. Não há teoria, o conhecimento serve somente para "apontar" ou guiar o estudante em determinada direção, mas o caminho cada um tem de percorrer sozinho. O Yoga a gente sabe quando sente, e quem sente não desiste, mas para sentir-se são necessários anos de dedicação. Posso garantir que 100% das pessoas que mantêm uma prática regular e consistente por vários anos manifestam em suas vidas exatamente aquilo que desejam.


A grande aventura da vida é essa capacidade e total liberdade que temos de sermos livres para mudar e evoluir, temos essa oportunidade de purificar a nossa mente e intenção todos os dias, para manifestar e cocriar a nossa realidade. As coisas externas e os fatores externos são finitos, pode ser puro entretenimento manifestar esses "desejos" que trazem sem dúvida uma sensação de bem-estar ou servem como sinais que estamos no caminho certo. Mas o que conta realmente é o que se passa dentro, é a qualidade da energia interna que desenvolvemos por meio da prática, com mais ou menos coisas, mais ou menos dinheiro, com mais ou menos saúde, devemos nos perguntar: Estou em Paz?


Practice... Practice... All is coming... aqui... agora...


Tarik Van Prehn entre 2000 e 2003 deu aulas principalmente em Portugal, Espanha, Singapura, Malásia e Austrália. Entre 2004 e 2008 teve uma escola em Portugal ensinando principalmente em Lisboa. Nesse período também deu aulas no Brasil e no Havaí com seu grande amigo Matt Corigliano, companheiro de tapete e de ondas. Atualmente dá aulas principalmente na Noruega, Nova York, Espanha e Portugal e está de partida para a Tailândia para uma experiência de dois meses.




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