Biomecânica do Yoga
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Biomecânica do Yoga



Por Madu Cabral

A popularização do Yoga tem inúmeros benefícios, mas também alguns riscos. Com um número cada vez maior de professores, os precursores de métodos de Hatha Yoga mais difundidos viram a necessidade de criar regras para manter a essência e benefícios de seus métodos.

Os problemas começam quando os professores passam a dar mais atenção a essas regras do que aos corpos de seus alunos; a metodologia passa a ser mais importante do que o aluno. Regras de alinhamentos das posturas não podem ser aplicadas a todos igualmente. A explicação para isso é um dos princípios básicos do Ayurveda (sistema de cura ancestral indiana, ciência irmã do Yoga): cada corpo é diferente do outro.

O professor Pedro Bara Zanotto, praticante de Hatha Yoga há 11 anos, começou a estudar biomecânica na busca de explicações para como o Yoga funciona e qual a melhor forma de praticá-lo. Neste processo de investigação descobriu um diagnóstico que revelou algumas lesões degenerativas na coluna. Tal descoberta gerou mais interesse em entender estas lesões e o que deveria ser modificado na prática para curá-las ou evitar que se agravassem. Isso o conduziu ao desenvolvimento de um novo olhar sobre a prática e como considerar as individualidades dos alunos. É isso que ele compartilha um pouco nesta entrevista:

O que é biomecânica? A biomecânica examina o corpo e seus movimentos, e fundamenta-se nos princípios e métodos mecânicos e no conhecimento de anatomia e fisiologia. É, portanto, a aplicação das leis e princípios do movimento aos tecidos biológicos.

Como se aplica ao Yoga? Não serve somente ao Yoga, tais conhecimentos deveriam fundamentar qualquer prática que inclua o uso do o corpo e de movimento, portanto tudo que fazemos, desde ficar sentado até o asana mais desafiador. O Yoga tem muito a trocar entre sua tradição de posturas e a sabedoria ancestral de efeitos com uma análise da biomecânica para sabermos exatamente os efeitos agudos e crônicos da postura: que parte é alongada, o que está estável, limites de amplitude articular para preservar as articulações etc.

Por que as lesões são tão frequentes na prática? Há um tempo eu atribuiria boa parte dessas lesões ao próprio praticante que extrapola seus limites. Hoje vejo que é inerente a algumas posturas a demanda de flexibilidade muito elevada e de amplitude articular muito grande, aumentando o risco de lesar a articulação. As permanências em algumas posturas são feitas em um ponto onde determinadas articulações (e, portanto, a própria postura) não estão mais estáveis.

Qual a responsabilidade do professor em evitar as lesões do aluno? Toda. O conhecimento biomecânico é importante tanto para o professor quanto para o aluno, mas o aluno não estudou e nem praticou tantas horas como o professor então confia que este guie sua prática.

Muitos alunos e alguns professores assumem que lesões são “normais”, “que fazem parte do processo” ou acham até que são necessárias para “abrir o corpo” e levar a prática a um novo patamar. Não vejo desta forma. Acho que lesões (as que são crônicas) podem e devem ser evitadas.

O papel de prevenção cabe aos professores, pois o aluno não tem como sentir uma degeneração articular! As lesões crônicas não aparecem de um dia para o outro, são processos duradouros e constantes de mau uso ou mau alinhamento.

Os músculos são altamente vascularizados e inervados: a primeira condição (vascularização) garante regeneração e a segunda (a inervação) garante controle motor e propriocepção – que o músculo informe ao cérebro o quanto ele está estirado e o quanto está tensionado.

Lesões musculares podem ser atribuídas à má organização dos movimentos e desequilíbrios musculares. Ou trauma e/ou esforço intenso. Talvez aqui o praticante tenha também bastante responsabilidade, deve estar aberto a desenvolver a própria sensibilidade. Mas cartilagens e discos intervertebrais são bem diferentes dos músculos: são pouco vascularizados e inervados.

Sem vascularização não podem regenerar. Temos de cuidar bem!
E sem inervação, não podem sentir dor. Quando estamos em pé, a gravidade gera uma força compressiva na coluna. Imagine o que aconteceria no caminhar, se a cada passo sentíssemos a compressão no disco? Seria impossível viver. O disco é uma estrutura de absorção de força, faz sentido que não tenha inervação. Por isso o aluno pode praticar muito tempo de forma lesiva antes de se dar conta; quando o sinal de dor se manifestar é porque já existirá uma lesão.

O disco intervertebral em si não dói, a dor surge quando houver uma protrusão ou hérnia que pressione a raiz nervosa. Só há pressão em direção à raiz nervosa com rompimento dos anéis fibrosos do disco, uma lesão séria. A cartilagem do joelho também não dói, somente surgirá dor quando o desgaste for tanto que a articulação apresente espaço reduzido e formação anormal de tecido ósseo, o que pode levar a outros problemas. Devemos então identificar e modificar os asanas quando forem potencialmente causa de sobrecarga e estresse para estruturas articulares.

Uma dica ao praticante é não achar normais problemas que são apenas comuns. “Estalos” nos joelhos podem ser comuns, mas não são como os joelhos deveriam funcionar: indicam lesão e instabilidade na articulação e mesmo não sendo acompanhados de dor são indicativos de dor futura se algo não for mudado.

Acredito que levar este refinamento à prática e mantê-la segura é responsabilidade do professor.


Cursos relacionados:
Fortaleza nos dias 2 e 3 de julho
Porto Alegre nos dias 24 e 25 de setembro.

Pedro Bara é graduado bacharel em Esporte e professor certificado no método Iyengar Yoga. Atualmente faz parte de equipe do CEDM na área de treinamento.
Contatos:
www.centroiyengar.com.br
www.centrodeestudosdador.com.br

Foto: Thiago Calazans
Greta Hill veste BeYoga



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