Yoga e ciclismo
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Yoga e ciclismo



Entrevista com Rene Azzi

1. Como o Yoga pode ajudar quem pedala e como o ciclismo pode ajudar quem já pratica? O Yoga pode ajudar quem pedala de diversas formas. Sendo o ciclismo um esporte linear, tal como correr, atentamos para os benefícios da prática. O Yoga, quando praticado pelo ciclista, auxilia no fortalecimento dos músculos e das articulações sobrecarregadas, no alongamento e, além disso, ao se aplicar as técnicas mais precisas de alinhamento, o conforto nas pedaladas é estabelecido.

Como as posturas do Yoga são fundamentadas em exercícios isométricos, ganhamos com a prática uma grande tonificação dos músculos, dando maior estabilidade às articulações, que são trabalhadas com muita intensidade no ciclismo. Um ciclista gira normalmente com uma cadência de 90 rotações por minuto. Em uma hora de trabalho constante são realizadas aproximadamente mais de 5.000 rotações. Por isso a importância de se manter as articulações alinhadas e estabilizadas, principalmente o alinhamento dos joelhos e quadris. Os quadríceps dos ciclistas frequentemente são superdesenvolvidos. Para compensar tal excesso, os isquiotibiais se encurtam e se enrijecem, perdendo assim sua força. Essa é uma das razões para a importância de se complementar o ciclismo com a prática de Yoga.

O alongamento facilita a mobilidade, mantém as fibras musculares maleáveis e favorece a transição da inatividade para a atividade sem sobrecarregar o corpo. Pois um músculo encurtado (não alongado) tem menos potência e menor velocidade para realizar o movimento. Para uma prevenção mais eficiente de lesões, é muito importante que o ciclista se alongue antes e, principalmente, depois das pedaladas.

Em suma, o Yoga ajuda o ciclista a estabelecer uma nova relação de conforto com a sua bicicleta, facilitando o rendimento nas pedaladas.

Para o iogue, por sua vez, o ciclismo pode trazer outros benefícios para complementar a prática de asanas. Os praticantes que precisam de ajuda para diminuir o risco de doenças coronarianas ou simplesmente para reduzir o peso podem aumentar os níveis de resistência do organismo à fadiga com apenas 30 minutos de exercícios diários. Além de ampliar a capacidade aeróbica, ocorrerão acréscimos no metabolismo das gorduras, contribuindo também para o fortalecimento dos músculos dos membros inferiores. Ao permitir a liberação de endorfina e adrenalina, o ciclismo produz sensações de bem-estar e, consequentemente, diminui as tensões da vida cotidiana. Esse trabalho aeróbico e cardiovascular do ciclismo muitas vezes não está presente em algumas modalidades de Yoga, com poucas exceções.

2. Como a prática de Yoga pode prevenir lesões? A prática de Yoga pode prevenir lesões aos ciclistas porque proporciona maior alongamento nos músculos, mais alinhamento no posicionamento do ciclista, mais resistência nas pedaladas e maior percepção do corpo. E, uma vez que podem ocorrer lesões por falta de ajuste da bike (principalmente nos joelhos e na lombar) gostaria de frisar a importância de se manter um trabalho paralelo com um bike fitter. Sabemos o quanto um ciclista está vulnerável a sobrecarregar algumas partes de seu corpo. Se seu corpo não estiver adequadamente ajustado, o ciclista tensionará seus músculos e desalinhará sua coluna na medida em que passa grande parte do tempo curvado sobre o guidão. Exercícios de extensões e flexões presentes na prática do Yoga devem ser combinados para contrapor e complementar os movimentos da pedalada e posicionamento na bicicleta.

Os quadris mais o “core” (unidade de músculos que suportam o complexo bacia-pélvis-lombar) são o centro do movimento para o ciclista. Se o “core” é fraco, então a parte superior do corpo tem de trabalhar mais, e isso pode levar à tensão na musculatura das costas, ombros e braços. A parte superior do corpo deve estar relaxada e livre de tensões para consumir menos energia.

Os quadris, coxas, joelhos e tornozelos devem estar todos alinhados, apontados para frente. Se estas partes do corpo estão fora de prumo, o ciclista corre o risco de desgaste dos ligamentos e tendões e pode desenvolver lesões em função do desequilíbrio em alguns grupos musculares. O Yoga também irá trazer mais flexibilidade e equilíbrio ao ciclista, minimizando também possíveis lesões externas provocadas por acidentes (como, por exemplo, quedas).

3. Como os exercícios de pranayama podem ajudar? Os exercícios de pranayama (exercícios de respiração) ajudam no desenvolvimento do volume da caixa torácica e no controle da inspiração e expiração. Com a prática regular desses exercícios, o praticante desenvolve maior consciência na respiração, a qual muitas vezes vira um ato automático e desritmado. O ciclista, mesmo em esforço intenso, deve sincronizar o ritmo da sua respiração com suas pedaladas. A prática de pranayama deve ser exercida juntamente com um trabalho de respiração mais consciente, pois os músculos, quando submetidos a um grande esforço físico, precisam se contrair bastante e, desse modo, passam a necessitar de mais oxigênio.

A união de asanas e pranayamas trará mais consciência ao ciclista, que terá como benefícios maior conforto, leveza e uma nova experiência com sua bike.

Rene Azzi fez formação em massagem terapêutica e estudou diversas abordagens de autoconhecimento com a Terapia Gestalt no Esalem Institute (Califórina - EUA). Em 2000, no Brasil, deu início ao curso de formação em Iyengar Yoga com Kalidas Nuyken e Regina Ehlers.

Nos 10 anos seguintes, trabalhou como massoterapeta Integrativo, em programa completo para atlétas, deu aulas no estúdio de Yoga de Dina Franchi, Projeto Acqua e Oficina do Ser. Ministrou vários workshops direcionados, ajudando pessoas a melhorarem sua prática ou à aprofundá-la. Teve a oportunidade de ensinar yoga em Campos de Jordão, num novo conceito de Hotel/Spa voltado para atlétas, o Surya Pan. Novamente na Califórnia praticou no Yoga Works e no Iyengar Institute, de Los Angeles e San Francisco, tendo contato com excelentes professores. Em 2010, de volta ao Brasil, participou do último semestre de workshops ministrado por Kalidas Nuyken e atualmente é professor da Cia Atlética, Iyengar Namastê e Ioga na Cidade.




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